quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ARTIGO SOBRE OFICINA DE ENSINO


CONHECENDO O ESPAÇO ESCOLAR

Flávio Rocha – Universidade Estadual de Londrina
Graciane Viana – Universidade Estadual de Londrina
Kátia Rodrigues – Universidade Estadual de Londrina
flaviorocha_geo@hotmail.com
gracianeviana@hotmail.com
rdsgeo@hotmail.com

RESUMO

Este artigo surgiu a partir das inquietudes geradas durante as observações efetuadas durante o estágio que foi realizando com os alunos do ensino médio no Colégio Estadual Érico Veríssimo. Por meio deste foi possível estabelecer discussões teóricas e praticas sobre questões tais como: características do espaço escolar, conhecimento por parte de alunos e docentes sobre o espaço escolar, assim como as relações que estes indivíduos têm com o meio escolar. Durante o estagio foram observadas dez aulas de diferentes séries do ensino médio.
Foi marcante para nós o desinteresse por grande parte dos alunos em relação ao conhecimento do espaço escolar e também a forma como isso acaba refletindo nos professores e na própria direção que “enxergam” apenas a escola como local de trabalho, onde são apenas transmissoras de conhecimento, sem dar relevância as relações interpessoais se isentando da responsabilidade de encontrar maneiras que promovam formas de tornar a escola mais interessante aos alunos. Assim, esse projeto se justifica como possibilidade de análise deste problema, apontando novas perspectivas e contribuindo para nossa formação acadêmica.

PALAVRAS CHAVE

Escola – professor – aluno – espaço escolar - observação

INTRODUÇÃO

O estágio de observação que deu origem ao presente artigo, foi realizado no Colégio Estadual Érico Veríssimo, localizado na cidade de Cambé. Neste , observamos dez aulas de Geografia ministradas pela professora Kelly Juliana Bordini Sarri, com as turmas de 1º e 2º do ensino médio.
Tendo como base as observações realizadas em sala, o presente artigo propõe uma discussão dos principais conhecimentos que os alunos e professores têm do espaço escolar, e das funções que a escola tem com a comunidade e se a mesma vem exercendo seu papel.
Além das observações, foram utilizados referenciais teóricos tais como: monografias de especialização em ensino e textos relacionados ao ensino de Geografia e ao espaço escolar.
O objetivo deste trabalho foi de investigar e analisar o conhecimento do espaço escolar por parte dos alunos e professores, e consequentemente, na relação professor – aluno e no próprio ensino de geografia, procurando apontar novos caminhos que possibilitem atender as novas demandas impostas pela sociedade em relação à escola, e levá-los a uma reflexão das funcionalidades do ambiente escolar.

CARACTERIZANDO O COLÉGIO ESTADUAL ERICO VÉRISSIMO

O Colégio Colégio Estadual Érico Veríssimo foi fundado no ano de 1952. Atualmente o Colégio está sob a direção da Profª. Lílian Adriana Nicolino e apesar das melhorias empreendidas no mesmo, ainda encontra-se algumas dificuldades relacionadas à sua infra-estrutura, tais como: insuficiência de instrumentos como retroprojetor, e aparelho de dvd, faltam também de livros didáticos na biblioteca do Colégio. Esses equipamentos poderiam servir de possibilidades didáticas aos professores do Colégio, contudo a falta dos mesmos dificulta propostas metodológicas distintas das aulas simplesmente expositivas. O colégio, por sua vez, está localizado no centro do município de Cambé.

HISTÓRIA DE VIDA DA PROFESSORA
A professora na qual disponibilizou suas aulas para a realização do estágio, leciona no colégio há cerca de 11 anos. Nascida no município de Cambé, possui 35 anos de idade. Graduou-se e se especializou em Geografia através da Universidade Estadual de Londrina no ano de 1998. Porém, já lecionava antes mesmo de se formar. Já trabalhou em creches, e a primeira vez que assumiu as aulas em colégio estadual para o ensino fundamental, mais especificamente a quinta série, foi no período em que ainda estava no terceiro ano de graduação. Iniciou o mestrado na Universidade de Maringá-PR, fez algumas disciplinas, mas não o concluiu, devido a obstáculos como a distância, e a falta de tempo necessário para continuar seus estudos. Atualmente, mora em Cambé, próximo a escola, o que facilita ainda mais o seu trabalho junto aos alunos e ao seu dia a dia. Nesta escola, assumi apenas um padrão de 20 horas aula e não pretende e nem está em seus planos assumir outro padrão. Entretanto, o que mais nos interessou, foi a capacidade e comprometimento com que a professora tem perante os alunos e a escola, não nos parecendo uma professora limitada.

REFERÊNCIAL TEÓRICO

Para a construção deste artigo, primeiramente tivemos que pensar no problema, como afirma (RIZZINI, 1999, p.26) “para um pesquisador, problema é um conceito fundamental e preciso, não é nem um dado absoluto nem evidente. Não se pode pensar em pesquisa quando não se tem um problema”. Pois para definição de um problema supõem a formulação de boas perguntas.
Diante das várias dificuldades encontradas na carreira do professor e tendo em vista um campo de variedades de problemáticas que norteiam a docência, logo em futuro próximo, as ações irão se repercutir em reflexo do passado. Tais ações que resultam no que vemos hoje, a decadência do ensino, e por conseqüência, os colapsos da educação, em especial ao ensino público. Contrapondo estas situações, também entra no jogo o papel do professor, na qual procura caminhos para sanar alguns dos problemas, e uma das questões a ser discutida é a própria prática pedagógica, ou seja, os mecanismos que o professor dispõe para incrementar e dar suporte a sua aula, levando em consideração a sua criatividade, que deve ir além das comuns. O que é comum acontecer é ouvir os lamentos dos professores quanto á questão dos recursos nos quais o colégio disponibiliza, sendo assim, fazem de suas aulas práticas de ensino uma educação estanque. Neste trabalho, temos o “espaço escolar” à disposição e utilizamos como recurso didático-pedagógico, com isso surgiu algumas indagações como: O que é o espaço escolar e quais são as maneiras de analisá-lo? Quais as visões dos alunos, funcionários e professores deste espaço? De que forma podemos agir para melhorar as relações que ocorrem no espaço escolar? Diante dessas perguntas e das reflexões é que o trabalho foi desenvolvido.
De acordo com Sato e Fornel (2007):

“o trabalho no espaço escolar não é mecânico, é de sujeitos coletivos, e o objetivo final não é um produto material ou o lucro, e sim a apropriação do conhecimento e enriquecimento de toda a comunidade escolar; portanto, nesse espaço social de construção, cada participante precisa agir cooperativamente, com a intenção de complementar o trabalho do outro, colaborar para a formação da equipe principalmente quantos aos objetivos comuns: a melhoria das circunstâncias da aprendizagem.” (SATO; FORNEL, p.54)


ATIVIDADE DESENVOLVIDA COM OS ALUNOS

Para que tivéssemos uma noção do conhecimento que os alunos tinham do espaço escolar e diante das dificuldades enfrentadas pelos professores no ensino de Geografia, quanto à questão do espaço escolar, suas relações e do próprio conceito de espaço para a Geografia, fez-se necessário a criação de uma metodologia na qual conseguisse atingir e solucionar as dificuldades e os problemas enfrentados pelos professores e alunos.
Portanto, antes de iniciar a atividade o professor teve de retirar as características físicas e sociais desse espaço para formulação do roteiro, na qual os alunos tiveram de fazer as observações. Foi realizada uma atividade na qual implica no professor conhecer o espaço onde será trabalhado e suas funcionalidades, e em seguida foi selecionado os pontos que serão visitados dentro da escola. A atividade tem a aplicabilidade flexível, ou seja, podendo ser desenvolvidas em diferentes séries. Os materiais utilizados foram à bússola, rosa dos ventos, papel, isopor, alfinete, cola, mapa. O passo seguinte foi o de separar os alunos em grupos de no máximo 5 pessoas, na qual cada grupo foi representado por uma cor. Em seguida, o professor distribuiu em uma folha de papel o roteiro incluindo as dicas de localização e as características do espaço visitado. Os grupos saíram da sala de aula de forma gradual e seguiram conforme o roteiro.
Chegando ao local selecionado pelo professor, os alunos foram descrever as características e as relações que estavam ocorrendo ou que poderiam ocorrer naquele espaço. Ao voltarem para a sala de aula, cada grupo teve de comentar para toda a sala o que foi observado no local visitado, para que os demais grupos pudessem também descobrir qual foi espaço visitado. Para a realização desta atividade, o professor tem de ter em mãos sempre um mapa (caso não disponha de um mapa, poderão ser utilizados imagem do Google Earth ou foto aérea) do espaço que foi colado em uma placa de isopor, em seguida os alunos receberam um alfinete representado pela sua cor e que serão localizados e colocados sobre mapa. Após a anexação dos alfinetes coloridos sobre o mapa, o professor utilizou um barbante, ligando todos os pontos que foram marcados pelos alunos representantes de cada grupo.
O professor concluiu a oficina destacando os pontos positivos e os propósitos de realização da mesma. Ao final, os alunos terão possibilidades de obter noções de localização, orientação, observação e visão crítica das relações e funcionalidades do espaço. Foi entregue a cada aluno um mapa da escola, assim como algumas pistas para que os mesmos conseguissem encontrar o ponto. As pistas dadas foram para que os alunos desenvolvessem o conhecimento geográfico adquirido em sala de aula. Eram por exemplo ande dez passos em direção ao norte depois siga na direção leste. Foi cobrado que cada grupo observasse as relações que havia no local em que eles estavam e que tipo de atividades eram desenvolvidas. Ao retornar a sala de aula cada grupo deveria descrever o local onde foi, para que o restante da sala tenta-se adivinhar qual era o local e marcar o ponto no mapa da escola.
O resultado desta atividade foi que todos os grupos conseguiram encontrar o ponto ao qual deveria ir, o que mostra que eles conseguem se locar utilizando-se apenas da rosa dos ventos, mas encontraram dificuldades para descrever as relações que haviam entre as pessoas que conviviam naquele local assim como em descrever as atividades realizadas ali. O grupo que se dirigiu a lanchonete da escola soube descrever bem o local ao afirmar que era um local que prestava serviços, era uma atividade comercial e onde havia um grande fluxo de pessoas. Já os alunos que foram à biblioteca falaram apenas que se tratava de um local de estudo onde havia um grande fluxo de pessoas, o grupo que foi a secretaria da escola não soube explicar quais as funções que a mesma tinha a oferecer. Isto mostra que os alunos têm um conhecimento do espaço físico da escola, mas que não estão a par das atividades que cada setor da escola exerce, e se não conhecem quais são essas funções eles não estão em condições de cobrar que a escola exerce suas reais funções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante ao que foi observado e levando-se em consideração os principais aspectos destacados anteriormente, nota-se que na maior parte das aulas a professora enfrenta uma série de obstáculos no que se refere ao conhecimento do espaço escolar.
Em relação à primeira afirmação é nítido que no colégio em questão não há grandes problemas indisciplinares por parte dos alunos. E quanto aos professores, podemos observar que a maioria deles, incluindo a professora Kely que por sua vez, embora tenha nos parecido possuir, competência e comprometimento com o crescimento da escola e o desenvolvimento do aluno, o desenvolvimento de algumas aulas limitou as possibilidades de conhecer melhor o espaço escolar. Pois, a falta de mapas fez com que a aula ficasse incompleta, já que este é um dos instrumentos alicerce do professor em sala de aula.
Quanto ao espaço físico da escola, notou-se que a maioria dos alunos estão conscientizados sobre a conservação e limpeza da escola, devido a não encontrarmos nenhum tipo de lixo nos chão dos pátios, banheiros, biblioteca, sala dos professores e principalmente a sala de aula.
O que também nos chamou a atenção é o fato de a escola estar localizada na região central da cidade, não atender somente os alunos que moram no centro, mas a maioria dos alunos que vem das periferias da cidade, como por exemplo, Jardim Mesquita, Jardim São Francisco, entre outros. Os alunos ficam bem distribuídos pela escola, já que seu espaço físico é relativamente grande.
E quanto às relações aluno e professor, percebeu-se uma aproximação maior dos professores com relação aos alunos e vice-versa. E a maioria deles estão sempre circulando pela escola para observar. Porém existem professores que saem do estacionamento, onde estacionou seu carro e tem sempre a mesma direção, que é de ir direto para a sala de aula ou para a sala dos professores, sem se preocupar em ler avisos que estão anexados nas paredes da escola, ou até mesmo na sala dos professores. Alguns professores não sabiam nem onde ficava exatamente a cantina da escola. Outros já se participavam do intervalo dos alunos, no qual notava-se que havia diálogo entre o professor e aluno.
Percebeu-se a dificuldade no momento em que os alunos foram expor os cartazes com imagens e breves textos para a sala sobre o tema Segunda Guerra Mundial, e em nenhum deles constava um mapa de localização da Guerra. E os alunos ficaram sem a noção de que parte do globo havia ocorrido.
Outras situações com relação as dificuldades é imposta pelo próprio aluno quando o mesmo ao não se interessar por algum tipo de aula não contribui para o desenvolvimento e bom andamento da mesma. Um outro exemplo é devido ao acesso às novas tecnologias pelos alunos, nas quais o professor sofre com a utilização de equipamentos como: mp3, mp4 e celulares, isto faz com que o professor use muito tempo de sua aula chamando a atenção da sala, apesar das normas internas da escola proibir a utilização deste equipamentos em sala. È necessário o professor usar de autoridade muita das vezes para ter o domínio da sala e isso acaba tornando-se um desafio ao profissional. Outro ponto importante a ser destacado é no que se refere às novas tecnologias, pois a professora prefere utilizar o método tradicional na parte teórica dos trabalhos, ou seja, os alunos entregam os mesmos manuscritos para evitar possíveis cópias da internet.
Ficou visível nas observações uma interação professor-aluno que vai além das questões de ensino-aprendizagem e que apesar da professora Kely passar por algumas dificuldades para ministrar uma boa aula, enfrentando alguns empecilhos os quais foram destacados anteriormente, a mesma buscou inovar suas táticas de ensino, saindo do tradicional.
Em suma, o estágio de observação contribuiu para que a trio vivenciasse na prática como é o cotidiano de um professor em sala de aula: suas dificuldades e desafios. Para nós à medida que as novas dificuldades se apresentam ao docente, este tem a possibilidade de encará-las como um desafio e assim dedicar-se nas soluções. Apesar de a mídia propagar uma idéia negativa em relação à educação no país atualmente, no colégio em questão não visualizamos nenhuma atitude semelhante às pontuadas pelos meios de comunicação e mesmo que alguns alunos fossem mais inquietos existe respeito e disciplina nas relações do aluno – professor com o espaço escolar.























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GARCIA, Regina L. Para que investigamos – para quem escrevemos: reflexões sobre a responsabilidade social do pesquisador. In: MOREIRA, A. F. et al. Para quem pesquisamos, para quem escrevemos: o impasse dos intelectuais. São Paulo: Cortez, 2001.

PASSINI, Elza Yasuko. O conhecimento do espaço escolar. Práticas de ensino em geografia e estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007. p. 52-57.

RIZZINI, Irma. Passos metodológicos da pesquisa. In: ____. Pesquisando.... guia de metodologias de pesquisa para programas sociais. Rio de Janeiro: USU. ED. Universitária, 1999.






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